23 HISTÓRIAS CLÁSSICAS - 4 - CORRE, CORRE, CABACINHA
Comparativamente com outros países europeus de que aqui
fomos falando, a recolha de contos populares foi mais tardia em Portugal. Data apenas
de 1879 (65 depois dos Grimm), a primeira colectânea publicada no nosso país,
intitulada precisamente “Contos populares portugueses”, e de que é autor Adolfo
Coelho. Seguir-se-iam importantes contributos, frequentemente mais baseados do
que este em trabalho de campo, como por exemplo o de Leite de Vasconcelos.
É na obra de Coelho, porém, que aparece originalmente a
história “A velha e os lobos”. Com ligeiras variantes, surge depois noutras
recolhas com nomes como “A velhinha e a cabaça” ou “O lobo, a velha e a cabaça”.
Porém, é só no final do século XX que este conto, com o
título “Corre, corre, cabacinha” já fixado, começa a ganhar um novo fôlego. Em
1991, uma figura maior da nossa literatura para crianças e jovens, Alice
Vieira, reconta-o, com ilustrações de José Miguel Ribeiro, numa edição da
Caminho.
Em 2002, é incluído por António Torrado (também um dos mais
importantes autores de literatura infanto-juvenil em Portugal) no seu livro “Ver,
ouvir e contar: cinco histórias tradicionais portuguesas recontadas”, ganhando
autonomia em 2007, num livro de pequeno formato com ilustrações de Nelson Maia,
ambos editados pela Campo das Letras.
Estes recontos, associados à proliferação de contadores de
histórias na viragem do milénio, e muito especialmente ao trabalho pioneiro de
António Fontinha, ajudaram a fazer deste um dos contos tradicionais portugueses
mais populares nos nossos dias.
Em 2006, a escritora galega Eva Mejuto fez também a sua
versão, editada pela OQO e contendo ilustrações de André Letria, cuja capa
mostramos.
Uma curiosidade: tal como acontecera com histórias tradicionais no estrangeiro, as versões mais recentes ganharam finais mais felizes. É que, na compilação de Adolfo Coelho, o conto terminava assim: “A velha, julgando que já estava longe dos lobos, deitou a cabeça fora da cabaça, mas os lobos, que a seguiam, saltaram-lhe em cima e comeram-na.”
Versão de Eva Mejuto com ilustrações de André Letria |
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