23 HISTÓRIAS CLÁSSICAS - 5 - O COELHINHO BRANCO

 “O Coelhinho Branco” integra aquela categoria de histórias que contêm uma mnemónica que nos ajuda a memorizá-las.

Sentados como estais em frente ao telemóvel ou ao computador, a um google de distância de quase tudo o que quiserdes perguntar (já validar as respostas não é assim tão simples), é fácil esquecer que para a maior parte das pessoas do mundo até há menos de cem anos a única forma de guardar memórias linguísticas era usarem o seu próprio cérebro.

Daí que os contos, transmitidos de geração essencialmente por via oral, se valessem de alguns artifícios para subsistirem no tempo. Um deles era a poesia que, não por acaso, estava muito presente nos textos antigos: a métrica (mesmo que os falantes não tivessem noção da sua existência, como no caso das quadras populares) ou a rima (tal como acontece ainda hoje com muitos slogans publicitários) eram excelentes ferramentas para ajudar a fixar as narrativas na cabeça dos ouvintes.

Outra dessas ferramentas era a repetição (ainda hoje a anáfora é um recurso estilístico muito caro aos escritores e, numa perspectiva mais oral, muito utilizado pelos humoristas nos seus espectáculos).

Ora, podeis até já não vos lembrar do enredo do Coelhinho Branco, mas se eu vos disser “E eu sou a cabra cabrez, que te salta em cima e te faz em três”, de certeza que vos começais a lembrar de alguns pormenores, até porque a história vai sendo repetida pelo protagonista aos diversos animais que vai encontrando e a quem pede ajuda.

Outra curiosidade é a evolução da escala: começando pelo boi, que diz ter medo da cabra, seguem-se o cão, o galo, cada vez mais pequenos mas igualmente medrosos, até chegar à formiga (“E eu sou a formiga rabiga, que te tiro as tripas e te furo a barriga”), um percurso frequente em muitos contos e que termina geralmente da mesma forma, com o mais minúsculo dos personagens a ser quem resolve o problema.

Esta é uma das histórias tradicionais portuguesas recolhidas por Adolfo Coelho na primeira compilação nacional a que já aqui aludimos e que, pelas suas características, chegou aos nossos dias praticamente incólume nas versões que têm sido publicadas em livro.  Existe um reconto de António Torrado, com ilustrações de Tânia Clímaco, na colecção Ver e Ler, da Asa, especialmente dedicada às crianças que estão a aprender a ler.

A imagem que vos mostramos é da versão do escritor galego Xosé Ballesteros, com ilustrações de Óscar Villán que lhe valeram o Prémio Nacional de Ilustração de Espanha em 1999.



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